quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Kiss 18 - Crazy Nights (1987)

Oi, eu sou o Salinas! Lá por 1987 as ausências de Gene Simmons começam a virar um problema sério, já influenciando o som da banda. Como baixista e como "demônio", ele contribuía musicalmente com sua já manjada batida lenta e arrastada, puxando o som sempre pra baixo. Mas agora, com diversos projetos cinematográficos ele estava mais fora do que dentro, a ponto de quase comprometer a amizade com Paul Stanley. É normal ter outros projetos além da banda, ainda mais pra quem está sempre nos holofotes e aparecendo em todo lugar, mas Gene estava exagerando. E ainda por cima deixava pra Paul o peso de produzir o disco. Mas este resolveu chamar alguém pra isso, coisa que não se fazia desde Animalize. O escolhido foi Ron Nevison, que tinha Heart e Ozzy Osbourne num currículo já na época respeitável.

Tendo que lidar com um ego a menos (ou nem tanto: Gene pirava por ai, mas na hora bater o pau na mesa tava sempre online), Nevison acabou levando o disco mais pra uma espécie de "light metal", um som pesado mas ainda assim nem tanto (pros padrões do Kiss e da época). Muitas das faixas ficaram com aquela cara tão típica dos anos 80 (ou, este é um dos discos que construíram essa estética). Muitas camas harmônicas de teclado, e no geral uma sonoridade bem "pra cima" a maior parte do tempo.

A verdade é que este disco foi tocado apenas durante sua própria turnê. Foi só ela acabar e as músicas foram todas enterradas e esquecidas. Este é o segundo disco mais "renegado" pelo próprio Kiss, perdendo apenas para o injustiçadíssimo Music from the Elder.

O disco marca também a mudança do logotipo da banda. Alguns críticos afirmavam que o antigo logo lembrava a SS nazista. Uma grande bobagem, principalmente pelo fato de tanto Paul como Gene serem judeus. Ou talvez, exatamente por isso deram ouvidos à crítica. (Mas quando vejo esse logotipo sempre leio "kizz"...)

De qualquer forma, Crazy Nights foi o disco de maior sucesso dessa fase 80s, mas a crítica especializada não perdoou. Coisas como "música tirada da pedra, mas com letras escritas a batom" resumem a repercussão do disco. A verdade é que a fase glam, apesar do virtuosismo do Paul e do up geral na banda com Eric e Bruce, nunca pegou pra valer como nos bons velhos tempos. (Coragem, tá acabando!)

"Crazy Crazy Nights" (Paul, Adam Mitchell)

O disco começa bem pra cima e alegrão, tema de Sessão da Tarde. Paul, consciente da repercussão dos últimos anos, faz praticamente um disclaimer do que vem vindo por ai: "esta é nossa musica, adoramos ela alta, e ninguém vai me mudar, porque é isso o que eu sou". (é foda ter q vender algo que nem você mesmo compra...) Mas enfim... O solinho não é matador, mas tem seu valor como importante corretor de vibe numa eventual tarde de segunda nublada (sim, tô só imaginando esse cenário aqui na minha cabeça... na real tá um calor do caralho, insuportável mesmo, em plena falta d'água, na noite de 13 de outubro em que escrevo isto).

"I'll Fight Hell to Hold You" (Paul, Mitchell, Bruce)

Esta faixa devia ter sido a primeira do disco. Cacetada logo de saída, o cantor e guitarrista Stanley H. Eizen novamente esticando as pregas vocais cada vez mais, para desespero dos fãs que curtem karaokê cantam no banheiro. No mais, outra declaraçãozinha de amor pra lista do Paul, mas essa sim bem poética e bonita: "eu luto até o inferno pra te abraçar, não tem rio fundo ou montanha alta!" Solinho matador desenrolado, receita pra virar hit! (se bem que não foi nenhum dos singles...)

"Bang Bang You" (Paul, Desmond Child)

"Mãos ao alto"! Paul Stanley tá todo armado pro xaveco desta vez, preparado e apontado como uma "bala de canhão" que ele vai atirar com sua "arma do amor" (lembrando aí os velhos hits do passado), e "acertar bem no coração". Batida lenta e arrastada, poderia até ser uma do Gene, não fosse aquele teclado dando um clarão no fundo. (detalhe: um fã brasileiro pode pensar inocentemente no "bangue bangue", mas na verdade Paul faz um trocadilho sacana: "bang" em inglês seria como o nosso "trepar")

"No, No, No" (Gene, Bruce, Eric)

Puta som do caralho!! Começa num solo de quebrar tudo, com direito a tapping, harmônicos e o raio que os parta, e uma batida lenta e arrastada (só que não MESMO!). Na letra, parece que a gaja não tá muito a fim, mas Gene tá assediando e não vai desistir. Não que seja diferente do que ele faz há quase 20 anos, mas desta vez, na boa, ele se aproxima da fina linha que separa o jogo da vacilação. A parte do "só assine a linha pontilhada, só me mostre onde que eu te mostro como" até que ok, mas "não diga que não se você vai, o que é meu é meu, o que é seu é meu", porra, Gene... então cê acha que as mina curte essa? "Não, não, não"!

"Hell or High Water" (Gene, Bruce)

Agora sim, bem melhor! Batida lenta e arrastada do Gene, agora sim a inconfundível, com aquele baixão rouco pontuando. Só dois dias sem ela e Gene já está que não se aguenta, "três da manhã acordado", foi parar no "achados e perdidos". Nada mais importa, "venha o inferno ou aguaceiro", mas vai "enrolar os braços nela" de novo. Solinho matador no final. Pô, Gene, tudo bem, existe amor na testosterona! Mas não pisa mais na bola.

"My Way" (Paul, Child, Bruce Turgon)

Outra trilha de filmes de praia e curtição dos anos 80. Coragem e confiança nos acordes maiores, teclado fazendo a cama, sol e céu azul, mas Paul está "na parede". Um hino a sua autoconfiança, e provavelmente alguma indireta aos críticos, talvez por causa da fase glam. Solo, e final em fade pra grudar.

"When Your Walls Come Down" (Paul, Mitchell, Bruce)

Agora é a vez do Paul abusar do jogo. Provocando a mina até o último, "mentirosa, com fogo nas calças" (seria algo como o nosso "está toda molhadinha"). Ela fica dando desculpas, "quero esperar por um amor pra sempre, tenho minha dignidade", mas ele não tá nem aí, vai fazê-la "engolir tudo" (sim claro, as frases...) "Nossa, como você fica doida quando as suas paredes caem"...

"Reason to Live" (Paul, Child)

O grande hit romântico do disco. Teclado pra tudo que é lado, não fosse a voz inconfundível do Paul (agora cantando limpo), passaria por um Scorpions ou um Van Halen na boa. Solo matador regado a perfume de motel (eu sei, ja usei essa...) e harmonias radiofônicas. Paul quando tá com o "coração partido" manda mó bem nas declaraçõezinhas de amor. OU no caso desamor. Ele pensou muito e criou coragem: "todos têm uma razão pra viver, mas [a minha] não é o seu amor".

"Good Girl Gone Bad" (Gene, Davitt Sigerson, Peter Diggins)

Depois de três seguidas do Paul (coisa rara), Gene volta ao ataque, mas a batida lenta tá menos arrastada, efeito das caminhas tecladísticas que a transformaram em mais uma pegada de rádio 80s. A mina queria tudo, menos amor... quando ela "fica má", se segura!!

"Turn On the Night" (Paul, Diane Warren)

Outro grude da telona e do rádio. Paul cria coragem e chega na mina, (desculpa gente) ~sem máscaras~: "todos querem você, mas eu quero mais que os outros caras". Em inglês, "turn on" é aquele toque especial que você adora numa pessoa... é aquilo que te deixa doidão! No caso do Paul, é a própria noite... Quando ela chega todos se transformam, e Paul "não pode esperar... ligue logo a noite" pra gente se amar!

"Thief in the Night" (Gene, Mitch Weissman)

Uma batida lenta e arrastada pra fechar o disco depois desse lamaçal doce. Desta vez é a mina tendo sua vingança, fazendo do jogo do amor um "sacrifício ritual". Gene que tanto aprontou por ai, agora tem que se virar com uma mina que faz mil magias pra "entrar no coração dele, como um ladrão na noite, sem deixar marcas". Quando ele menos espera, é plena madrugada e as "garras vermelhas em seu pescoço"...

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


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