quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Kiss 20 - Revenge (1992)

Oi, eu sou o Salinas! Em novembro de 1991, dois anos depois de Hot in the Shade, Eric Carr adoece gravemente, e morre de câncer no coração. A banda sente o baque, claro, mas o show não pode parar: Eric Singer assume o posto. Ele já conhecia o riscado, entrou como baterista substituto quando Carr começou a ter problemas, e com a morte deste, assumiu a persona de Catman. À revelia do agora distante Peter Criss, que não foi sequer cogitado.

Gene e Paul saíram por aí em busca de contribuições externas para o novo disco: Gene ficou atrás de Bob Dylan tentando escrever uma música com ele, mas não rolou. Acabou que o estranhíssimo Vinnie Vincent (que tinha tretado com eles na época do Lick It Up) resolveu voltar, arrependido e disposto a fazer as pazes. O espertalhão Gene topou botar uma pedra em cima do passado. Mas Vinnie quis ser mais espertalhão, tentando abocanhá-los no tapetão só porque escreveu aí duas ou três musiquinhas. Elas até foram para o disco, mas o que Vinnie ganhou, teve que gastar com advogados. Fora o desfavor eterno de Gene & Paul.

Já o "filho das estrelas" resolve chamar Bob Ezrin de novo. Gene não curtiu muito a ideia por causa da experiência com "Music from the Elder", mas é que ele já estava trabalhando com o Kiss por causa da "God Gave Rock'n Roll to You II", que eles estavam regravando para um filme (que virou cult por, entre outros motivos, ter no elenco um jovem Keanu Reeves), e na qual Eric Carr fez os vocais em "a cappella". Essa música acabou virando uma espécie de "testamento" do batera, e nem ia ser incluída no disco, mas com a morte dele, acharam por bem colocá-la como uma homenagem ao "Fox", junto com seu solo.

A impressão geral do disco deixa pra trás os espasmos da polêmica "fase glam"... só que não. Voltaram os personagens, mas as letras (tirando algumas honrosas exceções) continuam falando de mulheres e sexo, muito sexo. A sonoridade é que começou a mudar: as guitarras sujas, um cheiro de anos 90 chegando. Algumas faixas, e principalmente os solos, caindo para o grunge. É o Kiss tentando se reinventar mais uma vez, ao som das caixas registradoras e dos novos tempos.

"Unholy" (Gene, Vinnie Vincent)

O disco começa com mais uma batida lenta e arrastada, com um dos vocais mais graves e borbulhantes que já emanaram da goela do baixista e vocalista Chaim Witz. Depois de uma intro zumbindo e trazendo consigo  "o Senhor das Moscas", ele bota pra fora seu lado mais demoníaco, porém traz pro jogo outras referências religiosas/mitológicas/satanistas: o "reino de mil anos", "Incubus", "peste e fome", "mão esquerda" etc, todas "criadas pelo homem". Ou seja, no fundo é o judeu Gene dando seu recado sobre as religiões do mundo: aparecem só para sugar a energia de geral em vez de ajudar com alguma coisa. Solo matador bem grunjão, não deve nada pro que veio depois.

"Take It Off" (Paul, Bob Ezrin, Kane Roberts)

Com uma longa intro, que faz esta parecer a "verdadeira" primeira faixa do disco, Paul não está nem aí pra elucubrações religiosas. Tá dando "onze e meia" no relógio e ele quer é um pouco de "transpiração": no puteiro da esquina, descreve as loucuras que rolam quando a garota "tira tudo". Solo matador estranhamente sem cheiro de motel, e com essa distorção suja na guitarra, com muito mais cara de metal: Bruce não tá pra brincadeira!

"Tough Love" (Paul, Bruce Kulick, Ezrin)

Paul ainda não tá contente com a detonada de ontem. Numa batida mais marota, tá ligado que a mina pede pra ser "gentil e delicado", mas no fundo quer "amor duro". (claro que ninguém aqui tá fazendo apologia a violência contra a mulher. Ou será que tá? Cabe o debate: existe alguma "modalidade" "aceitável" de "violência" entre quatro paredes? "Um tapinha não dói"? Ou qualquer coisa que "possa doer" ou "com força" é, por definição, absolutamente condenável? Paul Stanley devia estar na cadeia? "Calma, também não é assim" ou "calma uma ova, é assim sim"?)

"Spit" (Gene, Scott Van Zen, Paul)

Uma das poucas faixas compartilhadas: Paul & Gene alternam vocais nesta disfarçada sacanagem. Nem todo mundo percebe, mas em  "você é o que (ou quem) você come, e eu quero algo doce" ele tá falando das garotas, hã, "plus size". É isso aí: quem falou que gordinha não tem vez? "Deixe os vizinhos falar", e quem fica com nojinho e "cospe" no chão nessa hora, não sabe o que tá perdendo! Levada marota e mais arrastada nos chamegos, e de repente fica ~acelerada~, hehe... O mundialmente conhecido hino americano faz a ponte pro solo.

"God Gave Rock 'N' Roll to You II" (Russ Ballard, Paul, Gene, Ezrin)

O grande hit do disco! Esse "II" do título é justamente pelo fato de eles terem regravado esta linda canção a partir de uma banda prog inglesa dos anos 70, o Argent. Com uma longa introdução heróica e triunfal, cai num decrescendo contemplativo mas feliz, no fim de tarde. Esqueça o ressentimento com as religiões em "Unholy", aqui tá todo mundo de bem: "Deus deu o rock & roll a você" e a todos nós. Liçãozinha de moral de Paul & Gene sobre ter que dar duro pra subir na vida. Pausa para os vocais "a capella", incluindo o próprio Eric Carr... mal sabia ele!! #rip :'-( No finalzinho Paul manda uns melismas meio Tylerzísticos.

"Domino" (Gene)

O povo aqui no Brasil acha que o tio Gene tá falando do jogo... sabem de nada, inocentes!! É o nome de uma mina que ele pegou umas épocas aí, e sim, o trocadilho é total porque ela "dominou" mesmo o "Papai Açúcar". Só tem um problema: ela não tem "idade pra ~votar~"... batida lenta e arrastada do Gene, só caminha harmônica na guitarra e chimbal quando ele conta a história, alternando com slides marotíssimos no baixo.

"Heart of Chrome" (Paul, Vincent, Ezrin)

Dá impressão que tem faixa repetida no disco. Mas antes de conferir o download, compare com "Tough Love" e "Spit", e perceba que as entradas são iguais mesmo. E mesmo a estrutura tá bem parecida, aquela batida mais anos 90, diferente do glam que predominou nos últimos discos. Aqui o Paul tá muito, mas muito emputecido com a mina, ela passou do ponto de aprontar. Ela vai pagar caro, ele vai acabar com a raça dela, etc... mas vem cá, o que isso tem a ver com "coração de cromo"? Simples, é uma fabricante de jóias e óculos cromados, lá das gringas. Ocorre que um dos produtos mais conhecidos deles é um anel com singelos dizeres. Subentende um presente de "amigo da onça" lá deles.

"Thou Shalt Not" (Gene, Jesse Damon)

Gene ultimamente tá estranho. Já são duas músicas no mesmo disco que ele não fala de mulheres: ele tá puto com esse negócio de religiões. Desta vez apareceu um "cara de preto e anel na mão" (um padre, né) querendo impor alguma baboseira pra ele. Teria algum cristão tentado converter o nosso baixista favorito?  Baboseiras ufanistas americanas sobre "ser livre", enfim, coisa lá deles. Solo matador sujão, com influência de Edvard Grieg (o maior compositor da história da Noruega) e seu inconfundível e mundialmente famoso "Rei da Montanha".

"Every Time I Look at You" (Paul, Ezrin)

Finalmente, uma declaraçãozinha de amor do Paul Stanley. Intro no violão, sentimentos, eu achava que não queria, mas quero sim, eu preciso de você, etc. Strings, solo lentão, refrão pegajoso, pausa no violão, etc. A voz de Paul soa meio rouca, principalmente nos trechos só de violão, estranhamente rouca como a voz de Criss.

"Paralyzed" (Gene, Ezrin)

Um longo slide perdido no meio do silêncio inicia esta faixa. Gene não tá nada bem, parece que ele tá entrevado numa cama, lobotomizado, embasbacado, abobalhado, anestesiado... "paralisado". Mas tá tudo bem!... é... tá tuuuudo beeeem...!... Mesmo mantendo o fatalismo, "ame a si mesmo porque eu nunca pude". Aí um falatório, supostamente dos médicos que já desistiram do caso, e um tema B. Aí ele "tem alta, mas sem mais nada a dizer", e tá tudo bem!...

"I Just Wanna" (Paul, Vincent)

E pra fechar o disco (originalmente), uma pegada bem glam, bem hard rock, bem pra cima! Só Paul que não tá lá muito na pegada, quer dizer, tá sim! Acabou de terminar com a mina e agora "só quer", de tudo um pouco, desde que seja pra "esquecer"! Pausa dramática lá pelo meio, e um belo arranjo vocal "a cappella". Refrão pegajoso.

"Carr Jam 1981" (Eric Carr)

Última homenagem ao Eric Carr, o motor de Maverick lá no fundão, que segurou o tempo, sem deixar cair, por quase uma década! Começa numa levada bem urbana nas guitarras ("car jam", em inglês, é "engarrafamento") e lá pelas tantas, um solinho na guitarra e todo mundo cai fora. Foco total nele. Viradas e mais viradas pontuadas no bumbo e fechando no splash, mais complexas a cada vez. Loucuras nos tontons, e uma levada quase heavy metal no ping ride, pra finalizar e voltar todo mundo pra fechar geral.

Adeus, The Fox. Nunca mais vou dizer que ~o Kiss nunca mais foi o mesmo sem o Peter~... você com certeza teve seu valor, e o Kiss nunca mais será o mesmo daqui pra frente! (ih mano, muito "nunca" numa frase só, vamo parar hein)

Mais infos sobre o disco, aqui. E quem não encontrar nas boas casas do ramo pode quebrar o galho no Youtube:



E é isso!


Um comentário:

  1. Primeira banda que vi ter culhões pra fechar o disco com um som que virou single e clipe (I Just Wanna)!!! rs

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